Nos últimos anos, a União Europeia tem se consolidado como uma liderança global no avanço das políticas ESG e da sustentabilidade. Com a implementação de novas regulamentações, como a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), a Corporate Sustainability Due Diligence Directive (CSDDD) e a Taxonomia Europeia, o bloco tem estabelecido diretrizes cada vez mais rigorosas para assegurar que empresas operem de maneira mais sustentável e transparente. Além disso, com a iminente adoção da Omnibus, um pacote regulatório que irá consolidar as normas existentes e reduzir a carga burocrática das empresas, a UE reforça sua posição de vanguarda na regulamentação sustentável, exigindo compromissos concretos de redução de emissões e sustentabilidade corporativa.
Por outro lado, os Estados Unidos, que já foram referência em alguns mecanismos voltados para a sustentabilidade, principalmente em estados como a Califórnia, estão enfrentando um cenário de incerteza que é exportada globalmente. Com a ascensão de Donald Trump e a crescente pressão dos republicanos contra regulações ambientais e sociais, diversas iniciativas sustentáveis estão sendo enfraquecidas ou descontinuadas. Isso gera insegurança não apenas para as empresas que já trabalham o ESG em suas operações, mas também para a sociedade como um todo, dada a urgência das ações climáticas frente ao aumento da intensidade e frequência de desastres naturais.
Além disso, um movimento recente tem causado apreensão no mercado de investimentos sustentáveis: a saída de grandes instituições financeiras, como a BlackRock, de acordos e compromissos voltados para ESG. Esse fenômeno reflete a crescente pressão política e econômica contra a agenda climática nos Estados Unidos, com alguns setores argumentando que investimentos sustentáveis podem comprometer retornos financeiros no curto prazo. A retirada dessas instituições pode enfraquecer o avanço das finanças sustentáveis globalmente, gerando um efeito cascata em políticas empresariais e regulatórias.
Diante desse cenário de contrastes, algumas possibilidades devem ser analisadas.
- Europa como modelo regulatório global: Com a robustez de suas regulamentações, a UE pode influenciar padrões internacionais e pressionar mercados globais a adotarem práticas mais sustentáveis. Empresas que desejam operar na Europa ou exportar para lá, precisarão se adequar, o que poderia dar continuidade à transição sustentável cada vez mais global.
- Retrocesso nos EUA e a resistência do setor privado: Mesmo com o enfraquecimento das políticas federais nos EUA, muitas empresas e estados continuarão implementando suas próprias estratégias de sustentabilidade, seja por pressão do mercado, investidores ou consumidores. 24 dos 50 estados americanos já se pronunciaram quanto a não cessarem ou reduzirem suas diretrizes e metas de sustentabilidade após a eleição de Trump. Essa resistência deve continuar gerando iniciativas que, mesmo descentralizadas, asseguram avanços ambientais e sociais.
- Aumento da polarização e do impacto climático: A divergência entre grandes potências tende a desacelerar o progresso global na luta contra as mudanças climáticas, resultando em eventos climáticos extremos cada vez mais devastadores. A falta de um compromisso unificado pode agravar impactos socioeconômicos e ambientais.
- Fortalecimento de parcerias internacionais: Diante da instabilidade dos EUA, novas alianças podem surgir entre a UE, China e outras economias que busquem liderar a agenda sustentável. Isso pode impulsionar investimentos e inovações em energias renováveis, economia circular e descarbonização.
A proteção de futuras gerações depende da resiliência e adaptação dos mercados, governos e da sociedade civil. Independentemente dos desafios políticos, a urgência climática exige ações imediatas e compromissos de longo prazo, com estratégias robustas para promover um ambiente habitável para as próximas décadas.