Na edição do Caderno Negócios em 7 de setembro de 2024, o jornal O Estado de S. Paulo apresentou uma entrevista da jornalista Luciana Dyniewicz com a executiva responsável no Santander Asset Management pelos critérios de ESG em fundos de investimento, Luzia Hirata. Gostaria de destacar pontos da matéria para reflexão.
O primeiro é a colocação sobre falta de informações relacionadas a sustentabilidade e que dificultam a classificação de empresas para investidores. Segundo a entrevistada, “A gente vive um momento em que as empresas estão se expondo um pouco mais, porque investidores e sociedade têm questionado mais o comportamento das companhias”. Excelente que isto esteja acontecendo.
Não se trata apenas de um jogo de reputação institucional. Esta exposição pode atrair capital de investidores.
Apresentar de forma clara os riscos a que as empresas estão expostas no cenário de meio ambiente, social e governança é um ponto sensível nos dias atuais. Apresentar de forma parcial não resolve. E o resto? Publicar um relatório das emissões de carbono, da gestão de efluentes e da gestão de resíduos, pode deixar em aberto diversas perguntas no eixo ambiental de ESG. Outros temas e critérios estão ativos, como a eficiência energética, a disponibilidade hídrica, a economia circular, os produtos perigosos entre outros. Identificar em todos os critérios aplicáveis ao seu negócio a relevância, urgência, riscos e oportunidade é o caminho certo.
No eixo social, falar do tradicional com a segurança no trabalho, a remuneração, o trabalho infantil, a equidade e inclusão é obrigatório, mas e o resto? Direitos humanos, qualidade de vida, relacionamento com clientes e fornecedores são critérios que precisam ser abordados na atualidade. A sociedade civil organizada tem feito pressão em setores econômicos, gerando inclusive passivos financeiros e reputacionais.
Em governança, a própria transparência já é um aspecto de alta relevância. Associações como a Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado Financeiro e de Capitais, a CMV (Comissão de Valores Mobiliários), o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e a B3 (Bolsa de Valores de São Paulo) estão subindo as réguas para as empresas médias e grandes. Acesso a fundos e investimento verde requer pró-atividade de informação. E o resto? Práticas de controle de gestão, compromissos com a sustentabilidade, conduta empresarial, acompanhamento do ambiente regulatório entre outros merecem a devida atenção e comunicação das iniciativas.
Na entrevista, há um outo ponto relevante. A Taxonomia Sustentável Brasileira que está em fase de elaboração. Ela tem como objetivo classificar atividades e ativos ou categoria de projetos que contribuem para o enfrentamento de eventos de mudança de clima, impactos ambientais e sociais. Ele ainda não existe, mas há instrumentos muito bons no mercado que servem de base para a evolução em ESG.
Um destes instrumentos é a ABNT PR2030, que traduz os três eixos de ESG em 14 temas, que por sua vez são representados em 42 critérios. Além desta classificação, a empresa faz o seu diagnóstico indicando o seu estágio de maturidade. Ou seja, não é um ponto único de chegada. É o conceito da evolução.
As empresas interessadas nesta evolução podem chegar a acreditação do seu estágio de ESG com um processo junto a ABNT Certificadora. Elas indicarão os temas e critérios aplicáveis ao seu modelo de negócio, apresentarão a sua visão de maturidade e as evidências de comprovação. Um processo de auditoria fará a análise documental e emitirá o parecer. Desta forma, as empresas conseguem se comunicar com o mercado com um documento comprobatório e de alta credibilidade.
Com processos bem definidos de diagnóstico, plano de ação e evidências, baseado em uma metodologia de credibilidade disponível no mercado, entendemos que a pergunta E o resto? fica respondida.